A sustentabilidade social é fundamental para construir sociedades equitativas e promover o bem-estar coletivo, complementando as iniciativas ambientais e econômicas para um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
Tão importante quanto a preocupação ambiental, esse pilar visa criar uma sociedade mais igualitária e promover o bem-estar de maneira geral
Vinícius Veloso
Quando o conceito de sustentabilidade entra em discussão, geralmente a primeira referência que surge na mente envolve a preservação da natureza, o uso racional de matérias-primas ou a redução na emissão de gases poluentes. No entanto, esse termo envolve outras questões tão importantes quanto o cuidado com o ecossistema. Ao lado do pilar ambiental, a atenção com o social e o econômico formam o tripé da sustentabilidade — definição concebida pelo sociólogo britânico John Elkington, considerado o decano do movimento dentro do universo corporativo.
O campo social envolve a responsabilidade com o capital humano, seja no interior de uma empresa ou em uma comunidade. Com foco na melhor distribuição do dinheiro para reduzir as diferenças de renda, o objetivo desse pilar é promover o bem-estar e a qualidade de vida das gerações atuais e futuras — garantindo que as principais necessidades sejam atendidas de maneira justa, equitativa e inclusiva. Tudo isso sem o comprometimento dos recursos naturais.
Entre os temas que se enquadram na sustentabilidade social estão a igualdade, direitos humanos, acesso a serviços básicos, eliminação da pobreza, educação, saúde e segurança. No cenário corporativo, também fazem parte dessa lista a oferta de salários justos, respeito às individualidades dos colaboradores e a criação de ambientes sem riscos físicos ou psicológicos.
Vale destacar, entretanto, que esse conceito não é um impeditivo para as empresas lucrarem. Muito pelo contrário, trata-se de um chamado rumo ao crescimento sustentável, com a administração do negócio levando em consideração o impacto de suas decisões na sociedade.
O pilar social ganhou muita força no final da década de 1980, com a divulgação do Relatório de Brundtland. Elaborado pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, o documento apresentou a ideia de que a pobreza existente nas nações em desenvolvimento e o elevado consumismo nos países mais ricos do mundo são obstáculos para um crescimento igualitário no planeta — consequentemente contribuindo para a origem de crises ambientais.
Alguns anos mais tarde, outro material surgiu para reforçar a atenção com a área social. Trata-se da Agenda 21, um dos principais resultados da conferência Eco-92, que aconteceu no Rio de Janeiro, em 1992. A publicação trouxe a ideia de que o desenvolvimento social e econômico das nações tem que ter foco na qualidade e não na quantidade, considerando tanto a questão humana quanto a ambiental. Aprovado pela ONU, o instrumento prevê que cada país tem a liberdade de criar os seus próprios compromissos, baseados nas particularidades regionais.
A sustentabilidade social é importante pelos benefícios proporcionados em diferentes áreas. Em questão de equidade e justiça, por exemplo, esse pilar promove as oportunidades iguais, além de mitigar as discriminações e incentivar a busca por uma sociedade mais equilibrada. Tudo isso sem abrir mão da qualidade de vida, do bem-estar geral e da garantia da oferta de serviços essenciais para todos, incluindo saúde, segurança, educação e habitação de qualidade.
De maneira geral, menosprezar a sustentabilidade social é aceitar a exclusão de grupos vulneráveis nas tomadas de decisão que impactam a vida da sociedade. Sendo esse um passo que pode levar na direção de conflitos, instabilidades políticas e tensões sociais. Para evitar tal situação, as empresas desempenham papel fundamental — começando pela oferta de empregos dignos e com a distribuição equitativa de recursos que ajuda a diminuir a pobreza.
No mundo corporativo, a adoção desse conceito gera ainda uma série de outras vantagens. Com a crescente valorização das ideias de sustentabilidade, companhias que demonstram a sua preocupação nesse sentido têm maior probabilidade de atrair e reter talentos profissionais. Além disso, existe uma melhora na imagem da empresa perante o mercado e seus clientes, cada vez mais conscientes da atenção necessária com as questões sociais e ambientais.
Outro importante benefício é que as práticas de sustentabilidade social podem motivar e envolver os funcionários, melhorando a moral, o comprometimento e a produtividade.
Para auxiliar as empresas no desafio de se tornarem mais sustentáveis dentro do campo social, em novembro de 2010 foi publicada a Norma Internacional ISO 26000 – Diretrizes sobre Responsabilidade Social. Inicialmente lançado em Genebra, na Suíça, o documento ganhou uma versão em português cerca de um mês após a sua divulgação. A norma ABNT NBR ISO 26000 foi disponibilizada ao público em 8 de dezembro de 2010. De uso voluntário, o documento não tem o objeto e nem é apropriado para fins de obtenção de certificações.
Gerada a partir do desejo das organizações de incorporar em seus processos decisórios as considerações socioambientais, a norma apresenta orientações sobre conceitos, históricos, tendências, princípios e práticas, identificação e engajamento de partes interessadas, comunicação de compromissos, integração, entre diversos outros assuntos relacionados.
Agora que você já sabe o que é sustentabilidade social e conheceu a sua importância, que tal conferir algumas dicas práticas de como colocá-la em vigor no dia a dia das empresas? Para isso, o primeiro passo é que as lideranças estejam comprometidas e engajadas com o assunto, sempre com base em estratégias claras e abrangentes. Ter um plano traçado com inteligência, contando com metas e indicadores mensuráveis, é indispensável para alcançar o sucesso.
Para a elaboração desse planejamento, é interessante realizar uma avaliação detalhada do impacto social das operações da companhia. Nesse momento, vale listar as áreas em que a empresa causa impactos positivos e negativos. Com base no projeto, é possível pensar em ações e políticas práticas que promovam igualdade, inclusão e respeito pelos direitos humanos, considerando, ainda, a maneira mais adequada de envolver os colaboradores nas atividades.
Espaços de trabalho inclusivos também são importantes. Para isso, as empresas devem promover a diversidade, respeitando as diferentes origens, experiências e perspectivas dos funcionários. Nesse sentido, é possível atuar em conjunto com ONGs ou grupos semelhantes que podem oferecer insights, feedbacks, sugestões, parcerias ou outros tipos de auxílio.
Verificar se as ações adotadas realmente estão gerando o efeito esperado é fundamental. Para isso, é possível estabelecer métricas e indicadores-chave de desempenho que avaliam o progresso em relação às metas de sustentabilidade social. Esses indicativos podem ser utilizados para possíveis correções de rumo, ou então, como balizadores de melhorias.
Os dados são usados, ainda, na comunicação — que precisa regularmente informar sobre o progresso e resultados das iniciativas para o quadro de colaboradores, mercado, público geral e demais partes interessadas. Por fim, é imprescindível ter atenção com a comunidade local, com a promoção de atividades que melhorem o bem-estar da sociedade no entorno da empresa.