Arquitetura Sustentável | 27 de outubro de 2024

De que forma as mudanças climáticas impactam o planejamento urbano?

Cidades precisam incorporar soluções para elevar sua resiliência a eventos climáticos extremos e promover saúde e bem-estar para a população

O agravamento das mudanças climáticas e a maior recorrência dos eventos extremos têm imposto uma série de ameaças às pessoas e aos centros urbanos. Segundo relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), mais de 40% da população mundial já está altamente vulnerável ao estado do clima.

As cidades têm uma parcela de responsabilidade importante na redução de emissões de gases do efeito estufa e na prevenção de desastres climáticos. Além de serem intensivas no consumo de recursos naturais e grandes geradoras de resíduos, elas são responsáveis por cerca de 70% das emissões globais de CO₂ graças ao consumo de energia e à poluição gerada pelos sistemas de transportes e pelas indústrias.

Estudos realizados pela Organização das Nações Unidas (ONU) apontam para a expectativa de crescimento da população urbana global de 63%, entre 2014 e 2050. No mesmo período, o aumento populacional no mundo deve ficar em torno 32%.

Em um planeta cada vez mais urbano, é nas cidades que os efeitos adversos das mudanças do clima serão vividos pela maior parte da população.

Soluções para mitigação das mudanças climáticas

Se por um lado as cidades são grandes geradoras de gases do efeito estufa, por outro elas têm enorme potencial para redução dessas emissões. Isso pode se dar por medidas como a promoção da mobilidade ativa, que reduz a utilização de veículos movidos à combustão, ao mesmo tempo em que promove a saúde e o bem-estar das pessoas. Para se ter uma ideia, na capital paulista, se houvesse a substituição de 5% de veículos automotores por bicicletas, seria possível poupar a emissão de 84,9 milhões de toneladas de CO₂, conforme estudo realizado pela Active Score.

O planejamento urbano também pode contribuir para a mitigação das mudanças no clima ao estimular a regeneração de áreas com o plantio de espécies nativas e densas. Tal medida é vital para melhorar o microclima e a qualidade do ar. E há muito o que fazer com relação a isso. Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda pelo menos 12 m² de área verde por habitante, metrópoles como São Paulo têm somente 2,6 m² de área pública verde por habitante.

Como adaptar as cidades às mudanças no clima?

A adaptação das cidades às mudanças climáticas exige ações locais, conforme as características e fragilidades de cada comunidade. Enquanto algumas cidades têm como principal ameaça a estiagem, outras precisam se preparar para enfrentar fortes chuvas.

Mas, de modo geral, não faltam estratégias que podem ser incorporadas no planejamento urbano visando tornar as cidades mais adaptadas ao “novo normal” climático. Entre elas está a utilização de sensores de monitoramento que emitem alerta diante da necessidade de alguma ação para proteção da infraestrutura e das pessoas em áreas de risco.

Para tornar as cidades mais preparadas para as temporadas de temperaturas elevadas cada vez mais recorrentes, a solução passa pela redução do efeito de ilha de calor, que acontece quando pavimentos, estradas e edifícios absorvem o calor do sol e o irradiam de volta, causando aumento na temperatura. Para tanto é possível valer-se de medidas como a adoção de superfícies reflexivas e o aumento de áreas verdes e sombreadas.

Especialmente em locais vulneráveis a chuvas intensas, é imperativa a redução da impermeabilização do solo e a adoção do conceito de cidade-esponja. Buscando um equilíbrio entre funcionalidade urbana e permeabilidade do solo, a ideia se apoia em soluções baseadas na natureza e na construção de infraestruturas verdes. Neste grupo estão os jardins de chuva e as biovaletas, capazes de promover a redução das vazões de pico por meio de sistemas de detenção, retenção ou infiltração da água da chuva.

Construindo cidades mais sustentáveis

Diante de um contexto climático tão desafiador, o planejamento urbano pode oferecer saídas para que os municípios sejam capazes de atravessar momentos de crise, minimizando perdas humanas e financeiras.

Instrumentos como o Plano Diretor e as Leis de Licenciamento podem ser muito eficazes na promoção de cidades mais saudáveis e de baixo carbono. Eles podem, por exemplo, fomentar a construção de moradias em locais onde há infraestrutura, reduzindo deslocamentos e melhorando a qualidade de vida das pessoas, ou estimular o uso do transporte público e a caminhabilidade.

Cidades como Melbourne, na Austrália, Copenhague, na Dinamarca, e Berlim, na Alemanha, utilizam seus planos diretores para reduzir as emissões de carbono e melhorar a qualidade de vida das pessoas. No Brasil, São Paulo também incluiu metas de descarbonização na revisão de seu Plano Diretor Estratégico, em sincronia com o estabelecido em acordos internacionais.