As decisões de projeto, a especificação de materiais e a qualidade da execução têm relação direta com a salubridade dos ambientes. Entenda!
Engana-se quem pensa que uma construção sustentável deva se limitar a soluções de eficiência energética e hídrica ou ao uso de materiais ecológicos. Além desses fatores, um aspecto cada vez mais valorizado é a qualidade ambiental, obtida por medidas que melhoram, de forma mensurável, os indicadores de saúde física, social e mental dos ocupantes.
A preocupação com a influência do espaço construído no bem-estar das pessoas se explica por vários motivos. A começar pelo fato de que o homem passa cerca de 80% de sua vida em locais edificados. Além disso, há evidências de que um ambiente bem projetado e construído gera benefícios como satisfação, melhoria de produtividade e redução do absenteísmo nos locais de trabalho. Uma pesquisa realizada pela Carnegie Mellon University mostrou que apenas tratando a qualidade do ar interno, é possível elevar a produtividade em até 18% e reduzir entre 0,8 e 1,3% o custo das empresas com afastamentos.
Há uma série de estratégias relacionadas ao projeto de arquitetura que podem contribuir, em maior ou em menor grau, para a saúde dos ocupantes. Entre elas, é possível destacar a criação de áreas favoráveis à integração e ao relacionamento interpessoal e o acesso à iluminação e ventilação naturais.
A qualidade do ar interno é um aspecto crítico quando o foco é a salubridade do ambiente. Sempre que houver disponibilidade, devem ser criadas aberturas que favoreçam a renovação de ar. Quando isso não for viável, é possível recorrer a tecnologias acessórias, como os sistemas de controle automatizados da qualidade do ar e a ionização rádio catalítica, que inativa vírus e bactérias do ar e das superfícies.
Uma prática recomendada é evitar materiais emissores de compostos orgânicos voláteis (COVs). Estamos falando de substâncias químicas presentes em uma série de materiais, como adesivos, selantes e tintas à base de solventes, que evaporam na atmosfera originando partículas voláteis que podem provocar irritação e obstrução nasal, reações alérgicas, dores de cabeça, náuseas e intoxicação.
Outro ponto de atenção deve ser a garantia de conforto térmico, lumínico e acústico. Para isso, é imprescindível o atendimento rigoroso às exigências das normas técnicas, em especial, a ABNT NBR 15.575: Edificações habitacionais – Desempenho.
O alinhamento com as normas técnicas também é determinante para assegurar, aos ambientes, boas condições de estanqueidade às fontes de umidade. Falhas na especificação e na execução dos sistemas de impermeabilização são causa de infiltrações e mofo, que aceleram a deterioração das estruturas e comprometem as condições de uso e de higiene das edificações.
A necessidade de garantir salubridade aos edifícios está longe de ser uma novidade. Durante a primeira Revolução Industrial, a comunidade científica já se questionava sobre problemas de saúde, incluindo surtos de doenças infecciosas decorrentes de moradias precárias e falta de saneamento urbano.
Na década de 1970, constatou que a contaminação dos sistemas de refrigeração e aquecimento dos prédios fazia as pessoas adoecerem. Nos anos 1980, a Organização Mundial da Saúde cunhou a Síndrome dos Edifícios Doentes, que se refere à relação de causa e efeito entre as condições de um ambiente interno e a agressão à saúde dos ocupantes provocados por falta de renovação e filtragem de ar, toxicidade dos materiais e agentes biológicos, como fungo e bolor.
Nos anos 2020, a pandemia de Covid-19 conferiu um ar de urgência à construção de ambientes saudáveis. Isso impulsionou a criação de processos de certificações de edificações focadas no bem-estar dos ocupantes. Foi assim que surgiram selos como o WELL e o Fitwell, que estabelecem padrões mínimos de qualidade dos espaços, compreendendo questões de saúde mental, qualidade do ar e da água, promoção de atividade física, além de conforto térmico, lumínico e acústico.