Documento verificado por terceira parte comunica aos stakeholders, de forma transparente e confiável, os impactos ambientais dos produtos
Desenvolver edificações mais sustentáveis exige o engajamento de toda cadeia da construção, de projetistas a construtores, passando pela indústria de materiais. Em um cenário de agravamento dos eventos climáticos extremos e da necessidade urgente de reduzir emissões de carbono, ferramentas como as Declarações Ambientais de Produto, em inglês Environmental Product Declarations (EPDs), ganham ainda mais relevância.
As EPDs apresentam, com clareza e objetividade, o desempenho ambiental de produtos e serviços a partir de uma perspectiva de ciclo de vida. Elas seguem uma metodologia padronizada, baseada em normas internacionais, como a ISO 14.025.
Trata-se de um documento específico para uma determinada linha de produto, com validade pré-determinada, em geral, de cinco anos. O desenvolvimento de uma EPD pressupõe uma visão sistêmica e holística sobre o processo de fabricação do material para mensurar seus impactos ambientais.
Uma característica importante da EPD, e que lhe garante credibilidade, é a verificação da conformidade dos dados por uma terceira parte independente, que pode ser um verificador individual aprovado ou um organismo de certificação acreditado.
Ainda que a elaboração de EPDs seja voluntária, na Europa já há regras exigindo que as empresas divulguem dados sobre o impacto de seus produtos no meio ambiente. Entre elas, o Regulamento de Itens de Construção da UE (CPR, do inglês Construction Products Regulation), exigindo que os fabricantes de alguns produtos de construção desenvolvam uma declaração ambiental como prova de conformidade.
A elaboração de declarações ambientais de produto representa um compromisso das empresas com a transparência sobre os potenciais impactos ambientais de seus produtos e serviços. Essa estratégia também auxilia esses fabricantes a realizarem melhorias contínuas no desempenho ambiental de seus portfólios, além de encorajar consumidores a utilizarem produtos/materiais de menor impacto ambiental, que se submeteram a essa avaliação.
Ao mesmo tempo, a organização passa a dispor de uma ferramenta de marketing poderosa, que comunica ao mercado seu compromisso com a redução da pegada ambiental.
A procura mais intensa do mercado imobiliário por certificações green buildings é mais um motivo para a indústria buscar elaborar declarações ambientais. Empreendimentos em processo de certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design), por exemplo, podem receber pontuação extra apenas por utilizarem produtos acompanhados de EPDs. “As Declarações Ambientais de Produto estão se tornando cada vez mais exigidas pelas empresas que possuem uma governança ESG (Environmental, Social and Governance) e estão comprometidas com as metas de redução das emissões de carbono”, diz Renato Salgado, consultor de sustentabilidade no Centro de Tecnologia de Edificações (CTE).
Segundo ele, se considerarmos que a fabricação de materiais de construção representa aproximadamente 80% das emissões de carbono incorporado nos edifícios, ter dados de emissão obtidos a partir de uma EPD aumenta a precisão de inventários corporativos e de estudos de avaliação de ciclo de vida de edifícios.
“A partir do momento que tivermos maior variedade de EPDs no mercado, poderemos fazer escolhas mais conscientes e forçar os fabricantes a implementarem programas de descarbonização da sua cadeia produtiva”, complementa o consultor.
Na Saint-Gobain, a publicação de EPDs encontra sinergia com a política ESG da empresa, que é signatária do Pacto Global da ONU e comprometida com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs). Produtos das marcas Placo, Isover e Ecophon já possuem EPDs publicadas, assim como a Cimentcola Rende Mais ACIII Plus Quartzolit.
As EPDs apresentam dados sobre a vida útil do produto, o consumo de energia e recursos envolvidos em sua fabricação, bem como as emissões durante a produção, uso e fim de vida. Esses documentos também apresentam os teores de substâncias perigosas, quando existentes, o potencial de reciclagem do produto e as medidas tomadas para diminuir impactos ambientais durante o uso e o descarte.
Para oferecer dados comparáveis e objetivos, as Declarações Ambientais de Produto se baseiam em informações de outro documento importante: a Avaliação de Ciclo de Vida (ACV). Esse estudo analisa o processo de desenvolvimento do produto desde a extração das matérias-primas até o descarte final.
A partir daí, a ACV transforma o impacto ambiental em algo mensurável, quantificando consumo de energia e emissões atmosféricas, por exemplo.
O estudo de ACV deve ser elaborado em conformidade com os princípios, estrutura, metodologia e práticas internacionalmente aceitos, estabelecidos pelas ISO 14.040 e ISO 14.044. Uma vez que a ACV seja concluída, os dados são formatados nos moldes de uma EPD, conforme as normas e diretrizes aplicáveis.