Economia Circular visa o melhor aproveitamento possível das matérias-primas e a não geração de resíduos. Entenda.
O modelo econômico que ainda predomina em todo o mundo se baseia na fabricação de produtos e bens a partir da extração de insumos da natureza, gerando resíduos posteriormente descartados. Por promover a escassez de recursos e a degradação do meio ambiente, esse processo vem se mostrando insustentável no longo prazo, criando oportunidades para que a Economia Circular adquira mais protagonismo. Trata-se de uma nova abordagem que considera produção e consumo de forma colaborativa e integrada.
A Economia Circular visa eliminar poluição e resíduos, potencializar o uso dos produtos e regenerar os sistemas naturais. Para isso, esse modelo econômico se propõe repensar a forma de desenhar, produzir e comercializar produtos para garantir o uso e a recuperação inteligente dos recursos naturais.
Nesse contexto, torna-se fundamental entender a origem e o comportamento dos materiais, de modo a extrair o melhor de cada um deles. Mais além, é preciso que a indústria tenha maior consciência de toda matéria-prima necessária em seus processos, inclusive sobre os impactos relacionados a beneficiamento, consumo, descarte, energia e transporte.
Análise de ciclo de vida
Não é sem motivo que grandes indústrias têm dedicado esforços e recursos para realizar as avaliações de ciclo de vida (ACV). O objetivo é usar as informações obtidas neste estudo para subsidiar projetos de aumento de eficiência de processos e reduzir custos.
A análise de ciclo de vida é uma ferramenta de gestão que considera aspectos ambientais e impactos potenciais positivos e negativos ao longo da vida de um produto, desde a extração da matéria-prima até a destinação final. “Ela foi desenvolvida para avaliar os impactos ambientais de um produto quantitativamente e de forma objetiva”, explica a pesquisadora do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), Fernanda Belizário Silva. Segundo ela, na ACV, todos os processos de fabricação são mapeados a fim de saber o consumo de material, de combustível, de energia e de água, assim como as emissões de poluentes e a geração de resíduos.
Os inventários são realizados a partir de metodologia regulamentada pelas normas ISO 14.040 e ISO 14.044 e podem apoiar, por exemplo, a elaboração da Declaração Ambiental de Produto, documento que já é exigido por alguns contratantes internacionais.
Também há regulamentações e órgãos que orientam para a realização da ACV, como leis de resíduos sólidos e de licitações, e referenciais como a ISO 20.400 (compras sustentáveis), e a ISO 14.001 (sistema de gestão ambiental), além do ISE (Índice de Sustentabilidade Empresarial) e do Sistema B.
Responsabilidade compartilhada
Na construção civil, estudar o ciclo de vida dos materiais faz todo sentido, ainda mais diante da constatação de que o setor é um dos que mais produz resíduos no Brasil. Segundo cálculos do CBCS (Conselho Brasileiro de Construção Sustentável), são cerca de 80 milhões de toneladas/ano destinados, principalmente, para aterros sanitários.
Desde a publicação da Lei n.º 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010, uma estratégia que vem se consolidando para diminuir impactos é a logística reversa. Trata-se de um conjunto de ações, procedimentos e meios para viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos para a indústria, seja para reaproveitamento em seu ciclo produtivo, seja para outra destinação ambientalmente adequada.
Em alguns setores industriais como os segmentos de pilhas, baterias, lâmpadas fluorescentes, eletrônicos e pneus, a logística reversa é compulsória. Na cadeia da construção, embora não haja tal exigência, já é possível encontrar empresas com ações concretas para tornar as sobras de produtos ou de embalagens passíveis de aproveitamento.
Tais iniciativas se explicam não apenas por uma questão de responsabilidade ambiental, mas também por uma necessidade das empresas se diferenciarem de seus concorrentes. Afinal, negócios com sistemas de responsabilidade estendida implantados tendem a se posicionar melhor em um mercado cada vez mais rigoroso com questões relacionadas ao ESG (Environmental, Social and Governance).
Uma pesquisa realizada pela Opinion Box junto a consumidores brasileiros em 2022 reforça esse movimento. Segundo o trabalho, um em cada três clientes afirmam que se preocupam muito com as práticas sustentáveis das marcas que consomem e 55% dão preferência por empresas conhecidas por cuidar do meio ambiente.