À medida que a consciência ambiental aumenta globalmente, uma porcentagem crescente da população opta por produtos sustentáveis, revelando um movimento poderoso em direção a práticas de consumo mais responsáveis e informadas.
Pesquisa mostra que 22% da população mundial está mais comprometida com os temas ambientais e prefere os produtos com viés sustentável
Vinícius Veloso
A sustentabilidade é um assunto que está em alta nos mais diferentes setores. A preocupação com o correto aproveitamento dos recursos naturais deixou de ser tema exclusivo de grandes empresas para se distribuir por toda sociedade — sendo considerada por muitos consumidores como fator decisivo para aquisição ou não de determinado produto. Tal realidade foi detalhada em pesquisa elaborada pela Kantar, multinacional especialista em dados, insights e consultoria.
Com o nome de “Sustentar para ganhar: desvendando práticas ecológicas para alcançar o crescimento de marca”, o trabalho está em sua quinta edição e mostrou que o número de consumidores mais comprometidos com a sustentabilidade voltou a apresentar crescimento em 2023, depois de dois anos de queda. Os dados mais recentes mostram que esse grupo representa 22% da população mundial. Já na América Latina, a porcentagem está em 18%.
Para chegar nesse resultado, foram ouvidas 120 mil pessoas ao redor do planeta, sendo 15 mil na América Latina e em torno de 3,5 mil no Brasil. De acordo com as projeções da Kantar, a expectativa é que esse conjunto de pessoas continue crescendo ao longo dos próximos anos. A empresa indica que 49% da população global seja composta por esse tipo de consumidor até 2027. Na América Latina, nesse mesmo ano, os cálculos apontam para um número de 34%.
Quem são essas pessoas?
Considerando o nível de interesse em relação à sustentabilidade, é possível dividir as pessoas em três grupos distintos: Eco-Actives, Eco-Considerers e Eco-Dismissers. No primeiro, estão os mais engajados, ou seja, aqueles que defendem o conceito e ainda atuam para difundi-lo entre os seus pares. Já no segundo ficam aqueles que se preocupam com o meio ambiente, mas que não conseguem agir como gostariam por conta de alguma barreira. E, por fim, no último ficam os que dão menor importância para esse assunto e preferem não se envolver nessa discussão.
O levantamento da Kantar aponta que a quantidade de Eco-Actives está aumentando. “Essa notícia é muito boa. Mesmo em um cenário difícil de agir, vemos um crescimento no cluster dos mais comprometidos. É um dado mais do que excelente. Achamos que o indicador derraparia, mas esse ano teve esse supercrescimento. E teve crescimento dos Eco-Considerers. Os dois somados são a maioria”, analisa Kesley Gomes, Latam LinkQ Director da Kantar.
Somando o potencial de consumo dos Eco-Actives e dos Eco-Consideres, chega-se ao valor de US$ 46,2 bilhões em compra de bens massivos de consumo — somente na América Latina.
Barreiras e oportunidades
O estudo também revela que mesmo os Eco-Actives encontram barreiras para adquirir bens sustentáveis. Entre os principais obstáculos mencionados estão os preços praticados pelos materiais (70%), a dificuldade para encontrar esses itens (61%) e a falta de informação (55%).
Outro dado bastante relevante apresentado na pesquisa é que 50% dos latino-americanos procuram de maneira ativa as empresas que oferecem modos de compensar o seu impacto ambiental. E que 44% já deixaram de comprar produtos devido ao seu impacto na natureza.
E na construção civil?
O estudo da Kantar aborda o mercado de maneira geral, porém as percepções na construção não são diferentes. Levantamento elaborado pela Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc) e pela Brain Inteligência Estratégica, no início de 2022, mostra que o brasileiro está disposto a pagar um pouco mais caro para adquirir imóveis mais sustentáveis.
Entre os entrevistados, 66% apontam a energia solar como bastante importante, 56% fariam maiores investimentos em uma residência que conta com tecnologia para aproveitamento de água da chuva e 57% preferem as moradias com espaços arejados e integrados à natureza. Para chegar nesses números, foram ouvidos 14 mil brasileiros em 2021 — sendo que, desse total, em torno de 850 pessoas afirmaram que tinham comprado um imóvel durante o último ano.
Essa percepção é corroborada por um trabalho desenvolvido pela HSR Specialist Researchers, empresa de pesquisa de mercado. O levantamento “Movimentos Geracionais” — que tem como objetivo identificar verdades e mitos sobre os valores e o consumo das novas gerações — mostra que os jovens nascidos entre 1997 e o início da década de 2010 consideram as questões de sustentabilidade no momento em que escolhem o local onde pretendem morar.
Construtoras do mundo inteiro estão atentas a esse movimento. De acordo com pesquisa encomendada pelo World Green Building Council (WGBC) — que em 2021 ouviu 1.000 construtoras e escritórios de engenharia e arquitetura de 83 países — cerca de 47% dessas empresas já levam em consideração as questões ambientais na concepção dos seus projetos.
Vale destacar que os imóveis sustentáveis são capazes de oferecer um retorno a médio prazo do investimento realizado em sua execução. Isso acontece, por exemplo, por conta do menor consumo de energia e água. Além disso, empreendimentos desse tipo contam com tecnologias e diferenciais que aumentam o seu valor de revenda e diminuem os índices de depreciação.
A expectativa é que o aumento dos consumidores engajados com a sustentabilidade gere uma espécie de ciclo, com as construtoras elevando os lançamentos do tipo para atender à essa parcela crescente da sociedade e estimulando outras pessoas a se interessar por esses imóveis.