Sustentabilidade | 6 de dezembro de 2023

Quatro materiais inovadores que podem contribuir com a sustentabilidade

Conheça essas soluções que estão em desenvolvimento — ou nas primeiras experiências de uso — e que serão capazes de contribuir para construções mais sustentáveis no futuro Vinícius Veloso   O setor da construção civil está em constante evolução e sempre na procura por ideias com o potencial de gerar melhores resultados. Entre as muitas […]

Conheça essas soluções que estão em desenvolvimento — ou nas primeiras experiências de uso — e que serão capazes de contribuir para construções mais sustentáveis no futuro

Vinícius Veloso

 

O setor da construção civil está em constante evolução e sempre na procura por ideias com o potencial de gerar melhores resultados. Entre as muitas vantagens que essas novas soluções são capazes de proporcionar, a contribuição com as boas-práticas de sustentabilidade figura entre as mais importantes. Afinal, a busca por obras com níveis mínimos de agressão ao meio ambiente se posiciona no topo da lista de prioridades das principais empresas desse mercado.

Pensando no futuro próximo, já existem em desenvolvimento (ou nos primeiros testes práticos de uso) algumas tecnologias com boas capacidades de impulsionar as construções “verdes”.

Conheça, na lista abaixo, algumas dessas novidades que podem estar disponíveis em breve.

Um bairro totalmente impresso

Localizada no Texas, Georgetown já era reconhecida pela Southern Living Magazine como a melhor cidade para se viver no sul dos Estados Unidos. Agora, o município que tem em torno de 67 mil habitantes ganhou mais um motivo para se destacar. Em julho de 2023, começou a ser executado na região um bairro totalmente constituído por casas concebidas em impressora 3D. São 100 imóveis que têm de 150 m² a 200 m², três ou quatro quartos e até três banheiros.

Com preços que ficam entre US$ 400 mil e US$ 599 mil (R$ 1,9 milhão e 2,9 milhões na cotação atual), as unidades têm sistemas que mitigam a dependência de recursos naturais finitos, como painéis para captação da energia solar. Toda a estrutura é composta de paredes impressas a partir de um concreto denominado Lavacrete (produzido com cimento Portland e aditivos especiais). O resultado é uma casa resistente que suporta tornados, terremotos e furacões.

O uso de impressoras 3D na construção civil gera vantagens ambientais na comparação com os métodos tradicionais de execução de uma obra. A começar pelo máximo aproveitamento dos materiais, afinal o equipamento usa exatamente a quantidade necessária de insumos para criar as peças. Isso faz com que o processo não gere resíduos ou sofra com desperdícios. E mais: as paredes são ocas e mais leves — reduzindo as emissões de CO2 no transporte até o canteiro.

As impressoras 3D conseguem, ainda, produzir estruturas a partir de materiais orgânicos, como terra crua e compósito de bambu. Soluções que reduzem a pegada de carbono da construção.

Concreto que se regenera

Imagine um concreto que tem a capacidade de eliminar as próprias rachaduras, de maneira semelhante ao que o corpo humano faz para tratar ferimentos na pele. Pode parecer algo bastante fantástico, mas se depender da equipe de pesquisadores da Universidade Técnica de Delft, localizada na Holanda, essa solução pode estar no mercado em um futuro não tão longe.

Batizado de bioconcreto, o material é produzido a partir da mistura do concreto convencional com colônias da bactéria Bacillus Pseudofirmus. Esses microrganismos são muito resistentes, tanto que no estado natural são capazes de habitar até mesmo as crateras de vulcões ativos. De acordo com o cientista Henk Jonkers, um dos líderes da pesquisa envolvendo a solução, essas bactérias criam esporos e podem sobreviver por mais de 200 anos nas edificações.

Porém, o ingrediente secreto dessa fórmula é o lactato de cálcio, substância que serve de alimento para esses microrganismos. Assim, quando as rachaduras aparecem, as bactérias “despertam” ao entrarem em contato com elementos físicos, como a água. Em busca de energia, elas consomem o lactato de cálcio e durante a digestão produzem calcário — que consegue realizar o reparo das trincas na estrutura em um prazo de cerca de três semanas.

Jonkers conta que o bioconcreto pode lidar com fissuras de até 8 mm de largura, mas com extensão de quilômetros. Alguns testes com a solução já foram realizados na execução de canais de irrigação no Equador. No entanto, ainda é preciso pensar em maneiras de tornar o material economicamente viável. Segundo publicação do jornal britânico The Guardian, a diferença de preço entre o bioconcreto e o concreto convencional chega a ser de quase 40%.

Observando pela ótica da sustentabilidade, essa novidade teria um imenso potencial para diminuir as necessidades de manutenção das edificações — promovendo economia de materiais e reduzindo as demandas de exploração de diferentes tipos de matérias-primas.

NBA x concreto ecológico

Você sabe qual a relação entre a NBA — liga profissional de basquete norte-americana — e o concreto ecológico? O elo entre esses dois temas bem diferentes é o atleta Rick Fox (três vezes campeão atuando pelo Los Angeles Lakers). Já aposentado das quadras, o jogador resolveu competir em um outro mercado e, juntamente com o arquiteto Sam Marshall, criou uma startup voltada para o desenvolvimento de um concreto ambientalmente mais correto.

Dessa empresa surgiu uma solução concebida a partir da escória, subproduto da fabricação do aço, e da água salgada oriunda das usinas de dessalinização. A mistura resulta em um concreto que emite menos carbono na atmosfera e que absorve ativamente dióxido de carbono em torno de 100 vezes mais rápido se comparado com o material convencionalmente utilizado.

Tintas que vão além do revestimento

Os painéis solares costumam ser os protagonistas quando o assunto é o aproveitamento de energias alternativas. Mas, e se além da cobertura do empreendimento, as paredes também ajudassem a gerar energia elétrica? Material que está sendo pesquisado em universidades ao redor do planeta, a tinta solar pode desempenhar essa função. Um desses estudos acontece no Royal Melbourne Institute of Technology, na Austrália, onde um produto foi desenvolvido com a capacidade de absorver a umidade do ar e usar a fonte solar para quebrar as moléculas em oxigênio e hidrogênio — com esse segundo sendo usado na produção de energias limpas.

Outro exemplo é um trabalho da Universidade de Toronto, no Canadá, envolvendo uma tinta com semicondutores em nanoescala que podem capturar a luz solar e transformá-la em corrente elétrica. Segundo a pesquisadora Susanna Thon, envolvida no estudo, as vantagens dessa solução seriam a redução nos custos para geração de energia e a possibilidade de realizar simples alterações na tinta para modificar o espectro de absorção da luz. A expectativa é que esse produto tenha a capacidade de ser até 11% mais eficiente do que os painéis solares.

Há, ainda, a tinta à base de materiais de perovskita — derivado de um mineral de óxido de cálcio e titânio. Elemento descoberto em 1839, apenas mais recentemente começou a ser estudado para a produção de células solares. O interessante dessa substância é que ela pode assumir a forma líquida, sendo assim bastante ideal para a fabricação das tintas solares.