O primeiro passo é ter um bom planejamento. Compras programadas, logística reversa e limpeza do canteiro são mais alguns cuidados. Confira!
A adoção de métodos para a implantação de canteiros limpos e organizados aumenta a produtividade, reduz a perda de materiais e geração de resíduos e facilita a logística, entre outros benefícios. Segundo a arquiteta Caterina Chippari, credenciada LEED AP BD+C e consultora na OTEC, os resultados serão ainda melhores com o comprometimento da construtora e de seus fornecedores.
“Importante salientar que existem duas normas que devem ser seguidas, ABNT NBR 12284, que regulamenta as áreas comuns em canteiros, e a NR 18, que define as condições e o meio ambiente de trabalho na indústria da construção”, afirma.
O programa para um canteiro organizado e limpo abrange estratégias que são detalhadas pela profissional.
1 – Planejamento
Um bom planejamento se inicia pela definição pormenorizada do escopo da obra. Dessa forma, é possível prever as diversas mudanças e adequações necessárias do canteiro conforme a sua evolução. Ou porque a construção avançou sobre as áreas de determinadas atividades ou porque elas não cabem mais no terreno. No primeiro caso, é comum que seja preciso realocar os escritórios, armazenamento de materiais, containers dos colaboradores e das empresas terceirizadas e dos equipamentos como lava-rodas e lava-bicas, entre outros.
Em terrenos pequenos, a maior parte dessas atividades são alocadas inicialmente no subsolo. Mas, se forem muito estreitos, podem ter suas áreas administrativas implantadas fora do canteiro, para viabilizar o acesso de veículos e equipamentos. “Por isso, a importância do planejamento do canteiro, de acordo com as diferentes etapas do projeto”, diz.
2 – Dimensionamento de espaço para armazenamento e descarte de materiais
Ainda na fase de planejamento, é fundamental consultar os fornecedores de serviços quanto ao espaço que vão precisar no canteiro para armazenamento e descarte de seus materiais. E exigir o armazenamento criterioso dos itens. Caso contrário, a obra sofrerá perdas importantes, principalmente de materiais mais sensíveis como o porcelanato. “Nessas condições, parte das peças se quebra. É um material caro, que utiliza recursos naturais para ser produzido, como a energia para os fornos. Esse desperdício acaba sendo um custo a mais para o dono da obra”, observa Chippari.
3 – Pedidos de compra programados
Consistentes, essa é a palavra-chave que deve nortear o planejamento dos pedidos de compra. Na prática, o cálculo dos materiais deve incluir perdas menores do que as historicamente registradas pela empresa. A estratégia induz a obra a trabalhar com o volume limitado ao que foi planejado e não desperdiçando.
A organização do canteiro é ainda melhor quando as compras são programadas conforme cada etapa da obra. “Essas iniciativas devem ser acompanhadas por rigoroso controle do estoque. Até mesmo para barrar situações absurdas como encontrar caixas abertas de materiais que foram comprados e que não serão usados naquela obra”, fala.
4 – Equipe dedicada
É indicado que o canteiro tenha um funcionário especialmente dedicado a supervisionar o armazenamento adequado dos materiais e a destinação dos resíduos. “Caso contrário, a obra não consegue reduzir desperdício”, alerta.
5 – Logística reversa
Cabe à construtora incentivar a logística reversa dos materiais descartados por sua equipe e pelos fornecedores, de maneira a reduzir os resíduos. “Por exemplo, o vidro chega na obra acondicionado em pallets. Ao invés de descartar as quebras e o pallets, a obra pode pedir ao fornecedor que recolha e leve para sua fábrica, reciclando e reaproveitando”, sugere.
Do ponto de vista ambiental, a gestão dos resíduos do canteiro impacta na redução dos gases de efeito estufa. Está comprovado que canteiros que fazem a coleta e separação adequadas dos resíduos, conseguem desviar até 95% dos materiais que poderiam ir para aterros sanitários a empresas que os reutilizam ou transformam em outro material ou finalidade.
6 – Limpeza do canteiro
Para manter a limpeza constante, o ideal é que uma equipe percorra o canteiro, pelo menos duas vezes por semana, recolhendo restos como papel, embalagens e sobras de materiais já utilizados. Isso envolve treinamento de todos os parceiros, que são responsáveis por seus materiais. “É o caso do terceirizado que deixa espalhados pedaços de conduíte por toda a área. A obra o informa de que terá que parar sua atividade 20 minutos antes e fazer a limpeza”, aconselha Chippari.
7 – Limpeza dos equipamentos e ferramentas
A maior parte dos resíduos em equipamentos e ferramentas é constituído por concreto ou poeira, podendo ser limpos com pano e água. O procedimento deve ser feito imediatamente após o uso, para que não ressequem e, no caso de máquinas, não penetrem no motor.
Um exemplo é o caminhão betoneira que, depois de descarregar, precisa passar pelo lava-rodas antes de sair para a rua. Caso contrário deixará um rastro de concreto. “No projeto do canteiro, a boa prática sustentável recomenda que essa água seja submetida a um processo de decantação para reuso. E o resto de concreto já seco servirá para funções como sub-base do piso ou entulho, por exemplo”, ensina.
Para a manutenção das máquinas, ela orienta o uso de bandejas com kit de mitigação, para evitar derramamento de óleo no terreno.