Entenda como a construção civil está na vanguarda do desenvolvimento sustentável, adotando práticas inovadoras que respondem aos desafios globais e moldam o futuro de nossas cidades e comunidades.
Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável foram estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) e compõem uma agenda em prol de um futuro menos crítico
Vinícius Veloso
Entre 13 e 22 de junho de 2012, a cidade do Rio de Janeiro se transformou na capital mundial do movimento em prol do consumo consciente dos recursos naturais. Isso porque o município fluminense sediou, nesse período, a Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável (CNUDS). Também conhecido como Rio+20, o evento reuniu chefes de Estado e de Governo de 188 países para discutir os compromissos políticos relacionados à sustentabilidade.
Durante o encontro, os participantes reconheceram a necessidade de uma nova agenda para substituir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio — que expirariam em três anos. Com isso, foi redigido o documento intitulado “O Futuro que Queremos”, estabelecendo as bases para a concepção da Agenda 2030. Esse material estimulou a criação dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), instituídos em setembro de 2015, na Assembleia Geral das Nações Unidas. Marcando, assim, um esforço global para superar desafios da atualidade.
Abordando temas que envolvem as esferas social, econômica e ambiental, os ODS envolveram um extenso processo de consultas e negociações por parte dos países-membros da ONU, além da participação da comunidade civil e de outros stakeholders. Com 169 metas que precisam ser atingidas até 2030, os objetivos passam por questões que vão desde a erradicação da pobreza até a promoção plena da igualdade de gênero, o acesso à água potável, entre diversos outros.
Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável são:
Marcos importantes para a promoção de um desenvolvimento mais equitativo, inclusivo e sustentável no mundo, os ODS têm guiado esforços em níveis nacionais e internacionais que visam apontar caminhos para superar muitas das adversidades enfrentadas pela humanidade.
O papel da construção nos ODS
Segundo dados do Relatório de Status Global de Edificação e Construção de 2022, elaborado pela Global Alliance for Buildings and Construction (GlobalABC), a construção foi responsável por cerca de 37% das emissões de CO2 (relacionadas a processos e energia) e por mais de 34% da demanda de energia em 2021. Ainda de acordo com o documento, as emissões de CO2 e o consumo de energia nesse setor cresceram após a pandemia e alcançaram recorde histórico.
O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) destaca que a demanda por refrigeração, aquecimento, equipamentos e iluminação aumentou em torno de 4% em 2021 — em relação a 2020. Esses números apontam para um aumento na lacuna entre o desempenho climático da construção e a necessidade de descarbonização até 2050. “Se não cortarmos rapidamente as emissões, conforme o Acordo de Paris, teremos problemas ainda maiores”, adverte Inger Andersen, diretora executiva do PNUMA, alertando que anos de muitos avisos sobre os impactos das mudanças climáticas estão, cada vez mais, se tornando uma realidade.
São indicativos que, apesar de preocupantes, destacam a importância de o mercado adotar políticas em consonância com os ODS. Afinal, diversos dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estão diretamente relacionados às atividades e práticas da indústria da construção. Isso traz para as empresas do setor uma grande oportunidade de influenciar de modo positivo no desenvolvimento sustentável — sendo assim protagonistas nesse fundamental movimento.
Como as empresas podem fazer a sua parte
São vários os exemplos de como a construção civil pode contribuir para que os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável sejam, de fato, atingidos. É o caso do ODS 06 (água potável e saneamento), em que as empresas desse mercado dividem o papel principal com os agentes públicos na execução de obras de infraestrutura capazes de promover a plena distribuição de água e coleta de esgoto. É possível mencionar, também, o aproveitamento consciente da água nos canteiros — o que pode ser alcançado com a utilização de soluções de construção a seco.
Os fenômenos climáticos extremos — cada vez mais comuns — podem ser enfrentados com a adoção de tecnologias e materiais com baixa pegada de carbono (capazes de ajudar a mitigar as emissões dos gases do efeito estufa). Assim, entre os 17 ODS, um que merece total atenção da construção civil é o de número 13 (ação contra a mudança global do clima). Muito por conta dos níveis de emissões de CO2 registrados pelo setor e que seguem crescendo ano após ano.
Já no ODS 07 (energia limpa e acessível), a construção pode colaborar de maneira macro — desenvolvendo projetos de parques eólicos para melhor aproveitar essa fonte renovável de energia — e de modo micro — empregando nas edificações tecnologias para captação e aproveitamento da energia solar. Tais iniciativas ainda têm relação com o ODS 09 (indústria, inovação e infraestrutura), em que a construção civil é crucial na criação e na manutenção de instalações energéticas, além de estradas, pontes, sistema de transporte público, entre outros.
Para realizar trabalhos como esses, o setor gera empregos, investe no treinamento e qualifica a mão de obra. São todas práticas que colaboram com o ODS 08 (trabalho decente e crescimento econômico). Para contribuir, ainda mais, com esse objetivo, a construção civil pode promover a diversidade e a inclusão — não apenas nos canteiros, mas também em toda cadeia produtiva.
O ODS 11 (cidades e comunidades sustentáveis) envolve a adoção de tecnologias inovadoras por parte da construção para aumentar a eficiência, reduzir os custos e minimizar o impacto ambiental. Para tornar as cidades e comunidades mais sustentáveis, o setor também tem que dar preferência aos materiais e soluções ecológicos, além de apostar em designs inovadores.
Nesse sentido, o mercado tem responsabilidade de buscar inovação em processos e produtos, incentivar a circularidade, reduzir desperdícios e promover a reciclagem para colaborar com as metas do ODS 12 (consumo e produção responsáveis). Para acelerar tais movimentos, pode-se buscar atender ao ODS 17 (parcerias e meios de implementação) através da colaboração entre setor público, privado e sociedade civil. Ou seja, as empresas da construção civil podem formar parcerias com intuito de impulsionar iniciativas para promover o desenvolvimento sustentável.
Esses são apenas alguns exemplos de práticas responsáveis e sustentáveis que a construção civil pode adotar para desempenhar papel fundamental na missão de atender aos 17 ODS. Sendo um dos principais motores da economia, o setor tem totais condições de se transformar em um exemplo de como é possível se desenvolver sem deixar a sustentabilidade de lado.