Desenvolver soluções inovadoras para minimizar os impactos dos empreendimentos deve ser uma meta para a construção civil. O design thinking pode contribuir bastante para que o setor avance nesse sentido, principalmente no que diz respeito ao desperdício de materiais. Essa abordagem abarca uma série de práticas e técnicas que estimulam o pensamento colaborativo, o senso […]
Desenvolver soluções inovadoras para minimizar os impactos dos empreendimentos deve ser uma meta para a construção civil.
O design thinking pode contribuir bastante para que o setor avance nesse sentido, principalmente no que diz respeito ao desperdício de materiais.
Essa abordagem abarca uma série de práticas e técnicas que estimulam o pensamento colaborativo, o senso crítico e a criatividade nos profissionais de diversas áreas das construtoras, incentivando que eles pensem “fora da caixa” e encontrem alternativas sustentáveis para os seus projetos.
Para que essa abordagem dê certo, é fundamental reunir os melhores talentos de cada área, não apenas os especialistas em sustentabilidade. Isso porque a ideia será produzir insights para chegar a novas soluções para problemas já conhecidos.
“Todas as equipes distintas de projetos, obras, compras, fiscalização, proprietários e investidores devem caminhar juntos de forma colaborativa”, lembra a arquiteta, urbanista e especialista em construções sustentáveis Magali Morales.
Essa equipe multidisciplinar deve se pautar em três pilares básicos para o design thinking: empatia (se colocar no lugar do outro para experimentar suas dores e necessidades), colaboração (somando e complementando ideias) e prototipagem (colocando as ideias em prática para testá-las).
Com essa equipe plural montada, o próximo passo é seguir cinco etapas dessa abordagem:
Imersão: nessa fase, a equipe deve entender qual é o problema que tem em mãos;
Análise e síntese: com as informações reunidas, os profissionais podem organizá-las e analisá-las para, a partir daí, começar a esboçar algumas soluções;
Ideação: as soluções já pensadas começam a ser melhoradas e lapidadas;
Prototipagem e testes: as soluções já foram definidas e agora serão implementadas nos canteiros de obra e testadas;
Implementação: com a solução testada e aprovada, é possível implementá-la na prática.
O objetivo dessa abordagem é estimular nos profissionais a capacidade de resolver problemas de modo crítico e criativo e, para isso, há diversas ferramentas que podem ser usadas com essa finalidade, como pesquisa desk, mapa de empatia, brainstorming, world café, gameficação e cocriação com o cliente.
Na construção civil, a aplicação da abordagem e das ferramentas sugeridas pelo design thinking pode ser decisiva para atenuar a pegada ecológica do setor.
“O impacto dessa atividade no meio ambiente é bastante severo. Por isso é importante que as empresas se conscientizem, busquem educação continuada, se mantenham atualizados e apliquem o design thinking para minimizá-lo”, observa Morales.
A arquiteta observa que os empreendimentos são construídos para durar cem anos e, embora a construção em si seja impactante, muito mais impacto tem a sua vida útil.
“Um empreendimento que busque as melhores soluções ajuda a transformar as cidades em comunidades cada vez mais sustentáveis, atenuando desperdício de recursos, as emissões de CO2 e melhorando a nossa qualidade de vida”, explica.
Além desses aspectos, o design thinking pode contribuir efetivamente com um problema muito comum nos projetos e nos canteiros: o desperdício de materiais.
“O design thinking ajuda a criar uma consciência coletiva da importância do trabalho colaborativo. Como todos profissionais envolvidos preparados e com boas soluções, é possível reduzir o desperdício de recursos”, acredita Morales.
Ela lembra que 90% do combate a esses desperdícios acontece na fase de projeto e planejamento do empreendimento. O uso de soluções como aproveitamento de luz e ventilação natural e de velhas estruturas em reformas (quando possível) pode contribuir para diminuir a quantidade de materiais usados na construção.
“Também é possível usar o design thinking para criar diretrizes de aproveitamento dos entulhos de resíduos classe A (cimentícios) dentro do próprio canteiro, fazendo lastros, bases e calçamentos, por exemplo”, exemplifica.
O design thinking pode trazer inúmeros bons resultados para os empreendimentos, como maior engajamento das equipes, mais assertividade das soluções encontradas e aplicadas, incentivo à criatividade e ampliação da visão sistêmica.
Mas, apesar dos seus benefícios, a aplicação da abordagem na construção civil ainda é bastante tímida e restrita às construções que buscam certificações sustentáveis ou selos ambientais.
Um dos grandes desafios para sua aplicação é a necessidade de reunir profissionais com pensamentos diferentes para superar os desafios e definir as diretrizes a serem adotadas.
“A diversidade de pensamentos ajuda a extrair as melhores soluções. É muito mais estimulante quando a soma de pontos de vista divergentes converge para buscar saídas para os problemas”, explica.
É importante que a construtora também se conscientize que essa abordagem não ocorre apenas na fase de projeto, mas durante todo o processo construtivo.
Na etapa de construção, inclusive, podem acontecer muitos imprevistos que põem em risco algumas das metas. Reverter tais adversidades só é possível através do esforço, criatividade, senso crítico e pensamento colaborativo entre todos os envolvidos.
Magali Morales – arquiteta, urbanista e especialista em construções sustentáveis