Entenda como todos os agentes do setor podem contribuir efetivamente para reduzir os efeitos dessa atividade no mundo
A construção civil impacta diretamente o meio ambiente, a economia e a sociedade e cabe aos profissionais da área encarar um grande desafio: participar mais ativamente para reduzir seus impactos e ajudar o setor a evoluir.
Tanto arquitetos como engenheiros, trabalhadores dos canteiros e diversos outros profissionais e agentes do setor devem se conscientizar que são responsáveis pela geração de moradias, empregos e infraestruturas urbanas mais sustentáveis.
Confira qual é o papel de cada um deles:
Arquitetos
Esses profissionais podem contribuir bastante, já que é no momento da especificação e do planejamento dos projetos que são feitas as escolhas por materiais e soluções arquitetônicas mais sustentáveis.
Os arquitetos devem optar por produtos que consumam a menor quantidade de recursos e que estejam dentro de uma cadeia produtiva controlada, com o menor impacto ambiental associado e a maior durabilidade possível.
É muito importante evitar nas especificações o uso do termo “ou similares”. Isso evita que outros materiais possam ser escolhidos apenas por similaridade, sem que necessariamente sigam os critérios de sustentabilidade – o que pode impactar bastante os resultados do empreendimento.
Engenheiros
São eles que estão no dia a dia da obra e irão garantir que as ações sustentáveis sejam, de fato, aplicadas no canteiro.
Também é essencial que esses profissionais estejam atentos aos processos de contratação e nas questões de formalidade fiscal e trabalhista.
Trabalhadores do canteiro
Eles estão na ponta da produção e podem contribuir seguindo à risca os procedimentos e ajudando a implementar e a manter as ações sustentáveis definidas pelas empresas.
Cabe a eles também se posicionar e exigir ambientes de trabalho seguros, salubres e bem estruturados para as equipes, garantindo bons resultados para todos.
Os sindicatos do setor e as demais equipes de campo, como as de suprimentos e de almoxarifado, também podem ter um papel importante na cobrança, fiscalização e implantação das ações voltadas à sustentabilidade.
Consultores
A contratação de consultores e de especialistas em desenvolvimento sustentável também pode contribuir para minimizar os impactos da construção civil.
Esses profissionais desdobram as exigências ambientais a serem atendidas, estabelecendo os níveis de desempenho ambiental em cada requisito.
Também desenvolvem cadernos de encargos ambientais relativos às edificações e aos espaços públicos que serão usados na contratação dos projetos e na execução das obras.
“Eles acabam implantando os métodos de acompanhamento e controle da aplicação das exigências contidas nesses cadernos. Inclusive podem identificar e alertar sobre as medidas punitivas aplicáveis em caso de descumprimento das exigências”, explica Ana Rocha, engenheira Civil, doutora em Tecnologia e Gestão da Produção pela Escola Politécnica da USP (EPUSP) e pós-doutora em Gestão Ambiental de Bairros Sustentáveis.
Outros agentes
Além dos profissionais envolvidos diretamente com as construções, também é importante que o setor público, os agentes financeiros, a sociedade civil, a academia, as agências de fomento e as entidades de classe se engajem na busca de soluções sustentáveis.
Rocha acredita que deve haver uma divisão de responsabilidades, na qual o setor público e os agentes financeiros sejam os grandes protagonistas, mas com o envolvimento do setor privado e da sociedade civil.
“É dever do setor público garantir as necessidades básicas de transporte, moradia, educação e saúde e cabe aos agentes financeiros reconhecer e beneficiar as empresas do setor privado que praticam ações sustentáveis. É dever da sociedade civil não depredar os espaços públicos e exigir seus direitos, enquanto o setor privado deve rever a sua forma de fazer negócios, incluindo novos conceitos como análise do ciclo de vida e economia circular”, defende.
Todos juntos
Embora o tema da sustentabilidade venha evoluindo na construção civil ao longo dos últimos anos, o foco tem sido maior na adoção de práticas e soluções ambientais, como a redução do consumo de água, de energia e de geração de resíduos.
“O grande desafio ainda é o equilíbrio financeiro. Também há o debate sobre de quem é a responsabilidade de investir em práticas sustentáveis, que garantam o progresso e não causem danos ao meio ambiente”, observa Rocha.
Mas além das ações ambientais, é essencial estar atento a questões como equidade de gênero, ética e compliance, garantindo que as construtoras também sejam socialmente sustentáveis.
O ideal, para a engenheira, é que todos os envolvidos nessa cadeia produtiva respeitem seus papéis, mas trabalhem juntos em benefício da sustentabilidade do setor.
“Não existem resultados positivos quando o trabalho é individualizado. O coletivo é a resposta, não existe papel secundário. Trabalhar com projetos sustentáveis é uma questão de postura estratégica, de ampliação da visão e de criação de valor para o cliente, para a sociedade e para as gerações contemporâneas e futuras”, completa.
Colaboração técnica
Ana Rocha – engenheira Civil, doutora em Tecnologia e Gestão da Produção pela Escola Politécnica da USP (EPUSP) e pós-doutora em Gestão Ambiental de Bairros Sustentáveis