Descubra como a economia circular transforma a construção civil, substituindo o modelo de ‘extrair-produzir-desperdiçar’ por práticas que maximizam a reutilização e reciclagem, promovendo a sustentabilidade e reduzindo o impacto ambiental.
Modelo vem para substituir o conceito defasado de economia linear, em que um produto ou sistema é pensado para ser fabricado, utilizado e descartado
Também conhecido como take-make-waste (extrair-produzir-desperdiçar, traduzido do inglês), o conceito de economia linear é o modelo de produção e consumo predominante em todo o mundo desde a segunda metade do século XVIII, quando começa a revolução industrial. Nesse período, não havia o entendimento de como a extração abusiva de matérias-primas e a queima despreocupada de combustíveis fósseis seriam prejudiciais para o planeta e a sociedade.
Em uma corrida para gerar energia e promover a rápida expansão fabril, a humanidade deixa de aproveitar completamente muitos recursos nesse sistema econômico — e, assim, os bens retirados da natureza seguem via única: do meio ambiente até o descarte. Entretanto, hoje sabemos que esse método de produção não é sustentável e resulta em muitos problemas que se revelaram como grandes obstáculos para as atuais gerações, como as mudanças climáticas.
Por tudo isso, a economia linear tem sido criticada ao levar a um acelerado esgotamento de matérias-primas, aumento da geração de resíduos e outros impactos ambientais negativos. Afinal, a fabricação de bens em larga escala (priorizando a eficiência de custos) e para uso único faz com que muitos produtos sejam rapidamente enviados para os aterros sanitários. Esse ciclo cria, ainda, o desafio de como lidar adequadamente com os volumes descartados.
A economia linear também apresenta como efeitos colaterais nocivos a alta nas contaminações do solo, oceanos mais poluídos, desmatamento de florestas, prejuízos à biodiversidade, menor disponibilidade de água doce, aumento nas emissões dos gases do efeito estufa, entre outros.
Com o objetivo de promover o bem-estar geral, esse modelo obsoleto deve ser substituído pela ideia de economia circular. Trata-se de uma alternativa que promove o menor desperdício e a reutilização de produtos e materiais, além da criação de um ciclo de consumo mais amigável ao meio ambiente. Ao contrário do sistema tradicional, que segue o padrão “extrair-produzir-desperdiçar”, esse conceito mais moderno impulsiona o aproveitamento eficiente de recursos.
Na economia circular, os produtos são projetados considerando a facilidade na desmontagem e a reutilização de componentes. Além disso, há incentivos para manutenções que aumentam a durabilidade. Quando chega ao final de sua vida útil, a solução é encaminhada para centros de reciclagem que possibilitam seu reaproveitamento e reduzem a necessidade de exploração de matérias-primas. Outro diferencial desse modelo é a cooperação entre empresas, governos e sociedade para fabricação de mercadorias que sejam realmente mais eficientes e sustentáveis.
Tais ações têm a capacidade de minimizar o desperdício, reduzir a poluição e mitigar a pressão sobre os recursos naturais, contribuindo para um desenvolvimento mais resiliente. Com tantas vantagens, esse conceito tem ganhado destaque como uma abordagem alternativa para lidar com os desafios ambientais e econômicos associados ao modo linear de produção e consumo.
Pensar em como a economia circular pode ser aplicada é importante em todos os setores, mas a construção se destaca nesse cenário. Isso porque o mercado consome entre 20% e 50% dos recursos naturais no mundo inteiro, de acordo com artigo publicado no Journal Energies, além de responder por 39% das emissões dos gases responsáveis pelo efeito estufa, segundo a IEA.
Logo, torna-se fundamental a transição para um modelo econômico que foca em minimizar o desperdício de recursos, reduzir a pegada de carbono e promover a sustentabilidade ao longo de toda a vida útil dos mais diferentes projetos, sejam eles edifícios ou obras de infraestrutura. Esses cuidados começam já na etapa de concepção do empreendimento, que deve considerar a eficiência energética e favorecer a escolha de soluções que tenham baixo impacto ambiental.
Outra dica é aproveitar os materiais de construção reciclados, que são opções econômicas, de qualidade e bastante viáveis em muitos projetos. Nesse sentido, também pode-se criar política de coleta, armazenamento e correta destinação de resíduos e sobras — encaminhando para a reciclagem tudo aquilo que for passível de ser reaproveitado. Existem, inclusive, alguns tipos de materiais, como lâmpadas e cimento, que podem ser reciclados e poucos profissionais sabem.
Ainda no campo do melhor uso dos materiais, a construtora pode treinar os colaboradores para implementar boas práticas que minimizem os desperdícios e a geração de resíduos. Tais cuidados influenciam diretamente na menor necessidade de extração de recursos naturais.
É possível, também, adotar o modelo de construção a seco que é capaz de reduzir em até 28% o potencial de aquecimento global em comparação a uma edificação com o fechamento em alvenaria — de acordo com relatório elaborado pelo Centro de Tecnologia de Edificações (CTE).
Obras projetadas em conformidade com o conceito da economia circular têm menor impacto ambiental e estão mais próximas de receber certificações como o Leadership in Energy and Environmental Design (LEED). Além disso, engana-se quem imagina ser mais caro optar por esse tipo de construção. Isso porque é possível conquistar economia financeira com menores taxas de desperdício e uso dos recursos disponíveis de maneira mais inteligente e eficiente.
Os ganhos econômicos se estendem ao longo da vida útil do empreendimento, que consumirá menos energia e tende a ter maior durabilidade com a realização de manutenções preventivas. E mais: esses projetos podem ser planejados já com possibilidades de adaptação ou ampliação, o que facilita a execução de futuras reformas e reduz a quantidade de entulho dessas obras.
Adotar a economia circular resulta, ainda, na melhoria da imagem corporativa das empresas envolvidas no projeto — atraindo mais de clientes, investidores e outros parceiros de negócios.